terça-feira, 30 de maio de 2017

Na cracolândia, Doria deixou cair a máscara de bom gestor

A máscara do Prefeito de São Paulo caiu... João Dória pensava e tinha certeza que seus dotes comunicativos era o suficiente para administrar a Complexa cidade de São Paulo. Para se galgar postos altos na política brasileira precisa "comer muito feijão com arroz".
A gestão pública requer atributos que vão muito além do gerenciamento de um negócio. Área de conhecimento com teoria e conceitos próprios, requer formação e experiência, além de habilidade política, sensibilidade humana e capacidade de ouvir opiniões contraditórias antes de tomar decisões.
A Prefeitura de São Paulo não é para amadores. Estrutura complexa, com centenas de milhares de funcionários e terceirizados, lida com inúmeras políticas setoriais, regidas por leis próprias, requerendo coordenação e articulação. Não é uma empresa de marketing, um canal de comunicação ou um negócio de lobby.
O prefeito ignora essa realidade. Preocupa-se mais com o Facebook do que em formular políticas públicas em conjunto com sua equipe. Quer aparecer como um gestor eficiente e autoritário, que acorda cedo e dorme tarde, como se isso bastasse para gerir uma megacidade. Espera resultados rápidos, mesmo que efêmeros, para reforçar essa imagem falsa.
Desinformado e sem estratégia, vislumbrou na equivocada ação policial na cracolândia mais uma oportunidade para se promover como um eficiente defensor da ordem e da limpeza urbana e social. De blusão preto, que lembra as milícias fascistas, se misturou aos policiais e declarou que a cracolândia tinha acabado, para espanto de seus próprios secretários.
Sem coordenação institucional, planejamento e apoio de especialistas, achava que resolveria no grito um crônico drama social. Improvisadamente, derrubou casarões ocupados, ferindo moradores, e anunciou um arquiteto de grife para maquiar a área, como se essa fosse a questão. A cracolândia mudou de lugar e se espalhou.
Ignorando as leis do país e os direitos humanos universais, o prefeito pretendeu, com bravatas, tirar a questão social do mapa da cidade, eliminando os seres humanos que considera indesejáveis e suprimindo os territórios que ocupavam. Por fim, pediu autorização judicial para recolher, coletiva e compulsoriamente, supostos usuários de drogas, contrariando a Lei Antimanicomial, sancionada por FHC em 2001. A mobilização da sociedade, da Defensoria Pública e do Ministério Público freou os instintos autoritários do prefeito.
O prefeito "novo" reproduz o vício dos políticos tradicionais: interrompe programas das gestões anteriores, sem propor nada no lugar. De "novo", apenas a habilidade no Facebook. Que ele tenha a humildade de dar dois passos atrás: ouvir os especialistas, avaliar os pontos positivos e negativos do Braços Abertos e debater com a sociedade a melhor forma de enfrentar o problema.

* Texto do jornalista Nabil Bonduki colunista do Jornal Folha de São Paulo

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